Como é que as vendas a retalho na UE em abril influenciam a dinâmica do PIB na Zona Euro em 2020.
Nos primeiros três meses do ano já foi possível observar o impacto das medidas de contenção social no produto interno bruto (PIB) da Zona Euro - a economia recuou ao ritmo mais rápido de sempre, recuando 3,8%, de acordo com as estimativas preliminares do Eurostat. França, Espanha e Itália - três das quatro maiores economias do bloco - registaram contrações trimestrais nunca antes observadas no seu produto, tendo também dois dos três entrado em recessão.
Em particular, as vendas a retalho contribuíram significativamente para este resultado uma vez que registaram a sua maior queda, tendo diminuído 11,2% apenas no mês de março. Os dados mostram também que as vendas a retalho alemãs caíram 5,6% em março, tendo sido essa a queda mais rápida em mais de uma década.
A realidade é que este é bom indicador do pulso da economia e a sua performance pode indicar a direção para qual a economia se dirige. Apesar do seu estatuto de indicador coincidente, ele é usado muitas vezes como um indicador antecedente do ciclo económico, uma vez que representa aproximadamente dois terços do PIB da zona euro. A sua brutal redução no mês de março e aquela que se espera para o próximo de abril – cerca de 10% - mostra a substancial diminuição do consumo da população. Como aparente causa, temos a existente aversão pelo risco e um forte aumento das poupanças dos consumidores, não só como consequência das medidas de contenção social como também por precaução face a um futuro incerto. Aos dias de hoje, ainda não temos razões convincentes que nos levem a pensar numa alteração de paradigma.
Estas quedas das vendas refletem-se nos resultados das empresas, que se não tiverem liquidez financeira suficiente podem não ter outra alternativa senão despedir recursos humanos, levando consequentemente à redução da procura agregada da economia. Se por acaso, essas organizações estiverem cotadas e não oferecerem canais alternativos de venda, podem ser também afetadas pela queda do valor das suas ações, levando mais uma vez à redução do seu capital próprio e a sua capacidade de investimento.
Espera-se então que o PIB da zona euro seja substancialmente afetado por estes resultados. Christine Lagarde, presidente do BCE, alertou na semana passada que o PIB pode cair 15% este ano enquanto a Alemanha prevê que a sua economia poderá contrair 6,3%.
Frederico Aragão Morais, Market Analyst na Teletrade Portugal